Depressão é para os fortes

Depressão não é tristeza, não é coisa de gente frágil, muito menos frescura. E nada tem a ver com fé.

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Disse Padre Marcelo Rossi ao contar como foi passar pela depressão. No encontro com o papa Francisco, devido ao seu estado de humor, o padre não cantou. Só então teve o insight de que precisava de ajuda: “Eu não cantei para o Papa, foi aí que me dei conta: preciso me tratar.”

Hoje se pode dizer com propriedade, baseado em evidências científicas, que a depressão consiste em desequilíbrio químico, em uma disfunção da atividade dos neurotransmissores.

Vem ganhando cada vez mais importância, já podendo ser considerada um problema de saúde pública, ocupando o segundo lugar no ranking de doenças incapacitantes.

Essa tal depressão

A depressão se caracteriza por uma mudança de comportamento do indivíduo, motivada por alteração do seu estado basal de humor.

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Pode vir transvestida de muitas faces:

Caracterizada por uma diminuição global de energia, pode se apresentar através de uma diversidade de sinais e sintomas.

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O longo espectro da depressão vai desde sensação de vazio, fadiga, falta de sentido na vida, ausência de sentimento, perda do interesse, perda da capacidade de sentir prazer; até sintomas como melancolia, sentimento de inutilidade, culpa, irritabilidade e intolerância, a ponto de se tornar rude e mal-educado com explosões de raiva.

Afeta também a capacidade de

  • Realizar tarefas que exigem: concentração, memória e raciocínio
  • Tomada de decisões
  • Adaptação a novas situações
  • Suportar sobrecargas

Além disso, pode comprometer o sono, o apetite e o limiar para dor.

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A vida vista sob lentes tortas

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Na depressão ocorre uma distorção da forma de enxergar o mundo, o futuro e a si mesmo.

Um mundo que passa a ser visto através de lentes “quebradas” e cobertas de pessimismo…

…Os obstáculos parecem maiores, a autoestima “vai para o saco” e a desesperança toma conta.

Sempre que houver prejuízo ou sofrimento importante, procure ajuda!

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É o caso da autora da obra Harry Potter, J.K Rowling, que após a separação do primeiro marido e em situação financeira precária, desenvolveu sintomas depressivos graves.

“Aos vinte e tantos anos, as circunstâncias da minha vida eram precárias e realmente me afundei. O que me fez buscar ajuda foi provavelmente minha filha”, afirmou a autora que usou a depressão como inspiração para a criação dos seus dementadores.

Depressão mata?

Quem nunca ouviu alguém comentar que “fulano morreu de desgosto”, “ciclano morreu deprimido” ou que “beltrano se entregou”?!

O primeiro antidepressivo, a Imipramina, só foi desenvolvido na década de 50. Até então as pessoas tinham poucas ou nenhuma opção de tratamento e realmente “morriam deprimidas”.

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Hoje já está bem estabelecida a relação da depressão com o aumento dos níveis de cortisol no organismo.

O aumento do cortisol leva a várias complicações: aumento da pressão arterial (PA), intolerância à glicose (predisposição a diabetes), ganho de peso, alteração do ciclo sono-vigília, piora dos padrões lipídicos.

Uma pessoa com depressão tem 3 vezes mais chances de infartar do que uma pessoa sadia.

Quem está deprimido cuida menos de si mesmo, se importa menos com seu bem-estar e saúde, tem menor adesão aos tratamentos e faz uso irregular da medicação. Pacientes diabéticos de difícil controle, por exemplo, têm alta associação com depressão.

Por último, mas não menos importante, a depressão pode terminar de forma muito trágica, através do suicídio, cujas taxas têm se mostrado cada vez mais alarmantes.

Antidepressivo vicia?

Não.

Então por que tem gente que toma para o resto da vida?

A depressão tem caráter recorrente. Isso quer dizer que na história natural da doença, o risco de uma pessoa que já teve depressão uma vez, de ter uma segunda, é de 50%. Após o segundo episódio depressivo, o risco de ser ter um terceiro é de até 80% e partir daí o risco de recorrência se aproxima de 100%.

À grosso modo, um cérebro deprimido é um cérebro inflamado. Um cérebro inflamado perde a capacidade de criar e manter neurônios e suas conexões, levando, a longo prazo, a uma espécie de cronificação e deterioração do quadro com piora do prognóstico.

Em outras palavras, quanto antes você tratar, menos neurônios você perde e evita que a doença evolua para uma forma mais grave e arrastada.

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A atriz e humorista Heloísa Périssé, ao ser perguntada se estava medicada, respondeu em tom bem-humorado:

“Eu não estou medicada… Eu sou medicada! […] Eu acho que é impossível não ser e encorajo todo mundo que às vezes passa por um determinado tipo de situação e fica envergonhado. Nós somos química. Existe uma química dentro do nosso corpo que se desequilibra. É normal. Eu não tenho problema nenhum com isso”

A atriz mostra de forma muito clara que quem já passou por depressão uma vez, não quer passar de novo.

Depressão é coisa séria.

Depressão é DOENÇA e passível de incapacitação

Depressão não olha cara, não olha cor, nem status social

E não se cura apenas com força de vontade.

Se na década de 50 ainda não se tinha a possibilidade de um tratamento, agora TEMOS! De la para cá evoluímos muito em matéria de tratamento para depressão com um leque extenso de opções de antidepressivos, cada vez mais eficazes e com menos efeitos colaterais.

Não se pode sonegar a possibilidade de melhora a alguém que precisa. Se for para morrer que seja de outra coisa, mas de depressão não. Não mais.

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