Se você está pensando que vou falar sobre a obsessão da humanidade pela felicidade como quem busca o pote de ouro no final do arco-íris da mesma forma que um cachorro corre atrás do próprio rabo, não, não vim falar sobre isso.

Acredito que já devem ter lido a respeito em outras matérias e textos que colocam a felicidade na mesma prateleira de objetivos do item “perder peso”.

Mas já que as pessoas gostam tanto de “receitas de bolo”, pois bem, vamos fazer um.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Se a sua vida é cumprir uma série de tarefas, como quem preenche um check-list, acreditando que ao final vai chegar a tal felicidade, como quem “zera” uma partida de video-game, está perdendo seu precioso tempo.

Ninguém encontrou a fórmula da felicidade porque a felicidade está no futuro. Em terras onde tempo é dinheiro, felicidade leva tempo. É preciso processar e por no forno.

Não, não estou querendo dizer que você precisa plantar para colher. Isso é uma questão matemática e todo mundo já sabe disso.

Estou falando daquela sensação boa que você sente quando chega ao aeroporto para uma nova viagem de férias, daquele sentimento agradável da casa da avó ou do efeito que causa o cheiro da sua loja ou restaurante favorito.

Percebem que todas são situações familiares?

O que é familiar, é conhecido. Para se tornar familiar tem que haver repetição e quando tem repetição vira MEMÓRIA.

É aí que quero chegar. Alegria, prazer, euforia são coisas de momento, do agora, do presente. Essas sensações são conectadas ao contexto lá na memória, de forma que quando eu chego no aeroporto e tomo aquela cerveja gostosa da Backer, aquilo me remete a uma viagem anterior, algo que já fiz antes e que foi muito prazeroso, e arquivado dessa forma pelo meu cérebro.

Agora imagina você pela primeira vez em um aeroporto desconhecido se preparando para uma viagem que nunca fez, qual o sentimento do momento? Estresse. Achar portão, não perder a hora, despachar bagagem. Ninguém é feliz fazendo uma coisa pela primeira vez. É preciso processar, por no forno…

Mas na segunda, meu amigo, aí é só alegria!

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Isso se a primeira experiência foi bem sucedida, se não o cérebro vai processar aquela experiência como ruim e pronto, você vai detestar aquele aeroporto…

Felicidade é coisa do futuro. É retrospectiva, é nostalgia, está na MEMÓRIA. Felicidade é saudade. Alegria é coisa do presente.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Não sou eu quem está dizendo, temos um pequeno núcleo no cérebro chamado “amígdala” que é responsável pela “consolidação da memória emocional”. O hipocampo registra a cena, a amígdala guarda a emoção, as informações são cruzadas e armazenadas juntas! Esse é o chamado “circuito do medo”, que também vai explicar a formação dos traumas e estresse pós-traumático.

Mas a amígdala também registra alegria e prazer, emoções que são processadas e armazenadas e quando você as acessa, através da memória, encontra a tão buscada FELICIDADE.

Por isso felicidade é coisa do futuro. A alegria de hoje é a felicidade de amanhã, é uma foto que te lembra de um momento, um cheiro que remete a uma coisa boa, um lugar, ou até uma pessoa que quando você encontra trás aquela felicidade…

Felicidade essa que tava ali guardada o tempo todo, na memória. Basta acessá-la. Como um bolo e seus ingredientes…

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Isso quer dizer que se você quiser ser uma pessoa “feliz”, preocupe-se em construir boas histórias, as histórias são o que fica.

João Guimarães Rosa (JGR) já nos ensinou que o segredo está na travessia, não no topo.

Faça um bolo, mas sinta a massa.

Conecte-se com seu corpo. Sinta o que seus dedos estão sentindo, saboreie cada ingrediente, cada sensação. Registre.

Aprenda a tirar fotos com a mente. Pare por alguns instantes naquele momento delicioso e registre cada imagem, cada cheiro, cada som, cada sensação… Daqui um tempo você vai poder acessar tudo aquilo na memória.

E é la, na memória, onde se encontra essa tal felicidade…

“Mas até hoje eu represento em meus olhos aquela hora, tudo tão bom… o que é, é saudade”. JGR

E para terminar nosso bolo, nada melhor que uma pitada de Christopher McCandless: “Felicidade só é real quando compartilhada”

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem