Esse relato mexeu comigo. Não só por ser um pedido de socorro, mas por ser uma manifestação genuína de um quadro típico de depressão. É um relato real e muito representativo de uma paciente que me permitiu publicá-lo aqui de forma anônima. Essa paciente eu consegui ajudar e espero que a publicação desse relato também ajude outras pessoas. Procure ajuda, você não está sozinho!

“ Oi, boa tarde. Tenho dificuldade em me comunicar com pessoas, não consigo me abrir pra ninguém e o jeito mais fácil e menos doloroso para mim é escrevendo. Espero que entendam…

Sou do tipo de pessoa que guarda tudo para dentro de si, não falo dos meus sentimentos com ninguém. Me sinto sozinha, decepcionada comigo mesma, com a cabeça cansada, com o corpo exausto… Se soubessem o quanto tenho me esforçado todos esses anos para lutar contra minha própria mente, talvez tudo seria diferente. As pessoas não têm noção do quanto é difícil expor nossos sentimentos…

Eu me sento uma pessoa oca. Não consigo sentir mais nada. Eu não quero mais nada.

Desânimo, choro, insônia, falta de apetite, mudanças repentinas de humor, nervosismo, crise de ansiedade, pânico, pensamentos e tentativas suicídio. Durante essa semana tomei mais compridos do que previsto para dormir, eu só quero descansar, longe de tudo e de todos. Quero apenas ficar quieta no silêncio e no escuro.

Pensei em pular de um lugar alto, já pensei em me afogar. Já tomei doses altas de remédios (e me senti inútil que nem me matar eu consegui). Já cortei os pulsos, já tive vontade de pular na frente de um carro. Qualquer coisa que possa tirar minha dor…

Muitos dizem que apenas querem acabar com a dor, eu quero morrer, quero ir embora, desaparecer…

Quando nova fui abusada sexualmente… duas vezes, por gente da família… Só contei de um episódio e ninguém acreditou em mim. Me viraram as costas, minha avó ficou contra mim e minha mãe entrou em depressão.

Ouvi comentários como: “- olha as roupas dela também”,” você é burra, deveria ter contado” … Realmente eu fui burra e a culpa foi minha. Se eu tivesse evitado, nada disso teria acontecido…

Mas eu tinha 12 anos… Doze anos e não entendia o que acontecia, então veio a consulta com o psiquiatra que não durou muito tempo…

O pensamento que eu tenho sobre isso hoje é de morte, eu poderia simplesmente pegar uma faca e me matar.

Mas esses pensamentos do passado nunca foram embora e sempre ficam ali dizendo: “oi, lembra de mim? A culpa é sua!“; insistem toda vez que eu lembro…

Hoje estou trabalhando… Há 7 meses venho passando por um estresse enorme no serviço quase semana inteira de hora extra, às vezes não consigo fazer horário de almoço, mas mesmo quando consigo não tenho apetite, não durmo a noite direito, tenho dor de cabeça e vários pensamentos do tipo: “o que eu estou fazendo aqui?”. É um ambiente que me faz mal, pessoas arrogantes que só te deixam para baixo… Não estou aguentando mais, eu não quero mais… Eu poderia simplesmente tomar alguma coisa e me matar e tudo se resolve… Não sei como pedir ajuda, então eu me escondo e só volto quando consigo disfarçar que estou bem…

Eu me sinto sozinha apesar de ter família, me sinto triste apesar de ter tudo, eu me sinto fraca apesar de demonstrar ser forte. Eu desisto facilmente das coisas, não tenho ânimo. As vezes desisto de ir para algum lugar por que mudo de humor e penso que seria melhor não ir. Me sinto feia, que ninguém se importa.

Eu prefiro me magoar do que ver as pessoas se magoando, então me dedico a ajudar os outros porque sei como eles se sentem… e sei que não é bom.

Às vezes eu acordo e sinto um vazio, um peso me segurando que não me deixa levantar. É uma guerra constante, um isolamento involuntário. Eu não sinto nada, mas queria sentir qualquer coisa.

Todos os dias eu fecho olhos e penso: “- Pelo amor de Deus, me tira daqui!”. Eu quero sair correndo, mas eu estou perdida eu não sei para aonde ir e isso é horrível…

Nesses últimos dias eu não estou me sentindo bem, minha mente fala comigo: “- se mata, pula daí, toma todos esses remédios, você não faz diferença, você e fraca, desiste, pega a faca… vai atrás dele mata eles”. E eu me machuco, me arranho me aperto, puxo meu cabelo… e nem sei porquê… Eu só quero paz.”